Projeto que ensina robótica em escolas públicas do Rio Grande do Sul é apresentado no FISL18

Foto: Sheila Uberti

Texto: Anderson Guerreiro

A quebra de uma lógica de ensino que coloca alunos de escolas públicas como produtores de conhecimento e não apenas de receptores foi pauta de uma palestra neste sábado no Fórum Internacional Software Livre (FISL18). Com o tema Inserção da robótica educacional livre nas escolas do RS, o professor Juliano Bastianello destacou as ações desenvolvidas no NTE, o Núcleo de Tecnologia Educacional, de Gravataí. O projeto, desenvolvido desde 2015, visa levar a robótica como forma de inovação nos ensinamentos das chamadas ciências exatas, compreendendo, por exemplo, matemática, física, química e noções de engenharia.

As ações iniciaram com 22 escolas e, hoje, já abrangem 105 instituições de ensino de Gravataí, Cachoeirinha, Viamão, Alvorada e Glorinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre. “Vemos o aluno não mais como um repetidor de ideias. Precisamos despertá-lo para o aprender”, destacou Bastianello que é formado em Matemática e, desde 2002, trabalha com robótica. Nas práticas de ensino, os alunos começam a enxergar a utilidade de equipamentos eletrônicos no seu dia a dia de outra forma.

O conceito de Robótica Educacional Livre, a principal base do projeto que já está sendo replicado em outras regiões do Estado a partir de um convite da Secretaria Estadual de Educação, vem do uso de softwares e tecnologias livres como apoio à parte analógica dos objetos criados. Além disso, trabalha-se fortemente com a ideia de interdisciplinaridade, ou seja, conteúdos de diferentes áreas que, juntos, podem direcionar determinado projeto. A Robótica Educacional Livre também está alicerçada na lógica de reaproveitamento de materiais recicláveis, como o isopor, e no gasto mínimo com a aquisição de kits tecnológicos prontos.

“Uma realidade de escola pública é não termos recursos para adquirir materiais. Trabalhamos com kits básicos iniciais e usamos materiais que estão à nossa volta como complemento”, relatou o professor.

O ensino da robótica nas escolas faz frente à lógica da escola como espaço de absorção de conhecimentos transmitidos pelo professor. Os espaços de interação e a autonomia dada aos alunos compõem uma nova maneira de educar. No projeto de robótica desenvolvido pelo NTE de Gravataí, a ideia é que se tenha apenas 5% de aulas expositivas e que 90% do tempo seja destinado às trocas e ensinamentos que os próprios alunos podem transmitir um para o outro.

“O professor é um facilitador da aprendizagem e não um centro”, comenta Bastianello. Ele e a coordenadora do NTE, Suziane Toffoli, expuseram diversos trabalhos no FISL 2018 feitos a partir das construções das escolas.

O projeto está em expansão e já abrange escolas municipais. Além disso, a Universidade Federal do Amapá se apropriou da ideia e, com apoio de Bastianello e Suziane, está desenvolvendo projeto semelhante no Norte do país. O ensino da robótica nas escolas permite também que alunos com necessidades especiais participem das atividades. A inclusão é feita principalmente com apoio de softwares que se adequam às particularidades de cada aluno. Junto aos alunos, os professores também são capacitados. Segundo Bastianello, os avanços já são perceptíveis.

“Temos crianças no 5º ano que já programam algumas coisas”, comentou. Ainda de acordo com ele, a mudança na lógica educacional precisa começar da educação infantil e ir avançando. “Não adianta querer mudar o ensino médio se o aluno já vem com outra cultura de ensino das séries anteriores”.

A Robótica Educacional Livre, apresentada no FISL, se destina a alunos da educação infantil ao ensino médio.