Público ou privado? Crianças desenvolvem jogo para descobrir a cidade

Foto: Márcia Schuler

 

A lua é pública ou privada? E as praças, os hospitais, as universidades? Essas foram algumas das dúvidas que passaram pela cabeça das crianças do Boquinha, encarte infantil do jornal Boca de Rua. Inspirada pelo tema do Fórum Internacional Software Livre 2018 (FISL 18), Informação e Comunicação Abertas para a Sociedade: O futuro do Conhecimento Livre, a equipe começou a pensar: mas afinal, o que é ser aberto, público e o que é privado? E como podemos explicar isso para as pessoas?

Foi a partir de todos esses questionamentos que surgiu o jogo livre do Boquinha, uma espécie de jogo de tabuleiro ampliado. Para desenvolvê-lo, as crianças começaram fazendo uma lista de locais na cidade de Porto Alegre (RS) sobre os quais tinham dúvidas. Depois, saíram pelas ruas para descobrir quais espaços, afinal, eram públicos, e quais eram privados. A pesquisa começou no ano passado, em um momento em que vinham à tona diversas discussões sobre privatização – quando os pequenos começaram, por exemplo, o aeroporto da cidade ainda era público, mas no meio do caminho foi privatizado.

Em seguida, as crianças desenvolveram um jogo aberto, inspiradas pela filosofia do software livre. “Tudo o que é feito no Boquinha é decidido por elas, e assim foi com as regras”, explicou Maria Rossal, coordenadora do Boquinha e da ONG Alice, que desenvolve o projeto, na apresentação desta quarta-feira no FISL.

Funciona assim: primeiro, o jogador atira o dado. O número que cair será a quantidade de casas que ele vai andar. Ou ele cairá em um lugar da cidade ou terá alguma outra orientação (volte para o início do jogo, por exemplo). Se cair em um local, deve responder se ele é público ou privado, apertando um botão. O resultado é mostrado em uma tela, na qual o jogador também confere o mapa para chegar até o local.

As crianças tiveram algumas surpresas durante o processo: elas achavam, por exemplo, que todas as praças eram públicas, mas descobriram que não era bem assim. Mitziane Paz, uma das meninas envolvidas no projeto, acredita que deveria haver mais espaços públicos na cidade – segundo ela, isso geraria mais inclusão e menos preconceito, pois qualquer pessoa poderia ocupá-los. “Se houvesse mais coisas públicas, as cidades seriam mais livres”, completa Erik dos Santos. Erik, Mitziane, Isadora Silva e Júlia Monteiro, todos parte do Boquinha, são unânimes ao afirmar que quanto mais o conhecimento e os locais forem livres, mais democrática fica a cidade e a sociedade.

Ficou com vontade de jogar? Então passa no Fislinho! O espaço fica dentro da área de exposição do FISL.

Boca de Rua, Boquinha & Fislinho

Criado em Porto Alegre (RS), o Boca de Rua é um jornal feito e vendido por pessoas em situação de rua. O projeto foi desenvolvido nos anos 2000 durante o Fórum Social Mundial. Em 2003, surgiu o Boquinha, encarte pensado e produzido por crianças. O trabalho é coordenado pela Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (Alice). Desde 2015, o Boquinha faz parte do Fislinho, espaço de convivência infanto-juvenil do FISL.

Texto: Márcia Schuler