Com foco em resistência e estratégia, tem início o FISL 18
Cerimônia de abertura ocorreu nesta quarta-feira (11) e contou com a presença de representantes do movimento do software livre e autoridades
O espírito de resistência promete ser um dos destaques do Fórum Internacional Software Livre (FISL) de 2018. Foi com essa inspiração, de pensar o software livre como estratégia para a superação da crise e para o desenvolvimento de economias e sociedades mais justas, que teve início na manhã desta quarta-feira (11) a 18ª edição do evento, em Porto Alegre (RS).
Dando início à cerimônia, o coordenador da Associação Software Livre.Org (ASL.Org) e do FISL 18, Sady Jacques, falou sobre o desafio de manter o Projeto Software Livre Brasil e o próprio fórum em um momento de crise mundial, justificando o fato de o evento não ter sido realizado em 2017.
– Apesar disso, persistimos. Entendemos que este evento tem um caráter irrevogável de resistência, por isso precisávamos realizar este encontro – explica o coordenador, defendendo que o evento deve ser também uma maneira de preservar a ideia de que o software livre é uma solução generosa e imprescindível para o desenvolvimento social.
Jacques fez questão de destacar, ainda, que apesar das dificuldades, o movimento de software livre segue forte no país. Houve um ciclo de crescimento e, agora, o momento é de crise mas também de reinício – e o melhor: com todo o conhecimento e as experiências acumuladas desde 2000, quando o FISL nasceu.
– Havia uma razão lá atrás que deve ser recuperada e trazida novamente como estratégia. Se queremos o desenvolvimento econômico e social real, precisamos partir da inteligência local, e ela necessita de matéria-prima. E essa matéria-prima é o software livre.
Representando a Rede Internacional de Software Livre (RISoL), da qual a ASL.Org é integrante, Ismael Castagnet também falou sobre as dificuldades dos movimentos de software livre no Uruguai. Para ele, existe atualmente uma contradição: ao mesmo tempo em que grandes instituições e multinacionais se apropriaram do uso do software livre, os movimentos na região se enfraqueceram.
– Temos que, juntos, seguir pensando em como vamos mudar essa realidade – disse, ressaltando a importância que um espaço de troca como o FISL tem nessa discussão.
Diretor-presidente da Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa), Paulo Roberto Miranda também esteve presente, representando o prefeito do município, Nelson Marchezan Jr. Ainda sobre a discussão a respeito da incorporação de softwares livres pelas grandes corporações, ele apontou que, apesar de resultar na ressignificação de bandeiras das organizações da sociedade civil, também é um sinal de que o movimento é vitorioso.
Miranda falou ainda sobre a importância do software livre no contexto de crescimento dos municípios, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil.
– Enfrentamos o desafio de uma demanda crescente de serviços e de atendimento ao cidadão, então a busca de soluções para melhorar a vida na cidade passa por ações e conceitos como os do software livre – afirmou.
Presidente da Softsul, uma das apoiadoras do FISL 18, Antônio Antonioni também ressaltou a necessidade de debater o software livre como tecnologia necessária para o desenvolvimento de soluções a partir do compartilhamento de conhecimento.
– O mundo é cada vez mais colaborativo, e por isso o software livre se torna cada vez mais importante – defendeu.
Representante do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Antônio Carlos Tiboni apontou que a instituição atua com essa visão: pensando o software livre como base para o desenvolvimento. Atualmente, a maior parte dos 3 mil desenvolvedores que atuam no Serpro trabalha com software livre, e a entidade tem como norma liberar o código de seus programas, como é o caso do Demoiselle Framework, um padrão aberto de construção de sistemas em linguagem Java baseado em implementações livres de especificações do Java Community Process (JCP).
Dando início aos trabalhos do FISL 18, Jacques aproveitou para lembrar que, tão logo se encerra uma edição do evento, tem início a organização da próxima, e convidou todos a participarem da construção da 19ª edição do fórum “com a compreensão da potência e da estratégia que o software livre significa para o país, estados e cidades”, sempre com o objetivo de fortalecer o conhecimento colaborativo e a construção de tecnologias livres.
Confira aqui (https://agenda.fisl18.softwarelivre.org/) as atividades deste ano do FISL.
Texto: Márcia Schuler